A industrialização da arquitetura no Brasil teve três momentos importantes no campo da pré-fabricação voltada a soluções para problemas urbanos do habitat social.
O primeiro momento foi o desenvolvimento de sistemas construtivos leves em argamassa armada por João Filgueiras Lima, arquiteto carioca que se dedicou desde o início de sua carreira aos processos de pré-fabricação na arquitetura.
O segundo momento foi a pesquisa e desenvolvimento de projetos utilizando o microconcreto de alto desempenho para a produção de peças pré-fabricadas leves, desenvolvidos no âmbito do Programa Ibero-Americano de Cooperação CYTED, que contou com a participação de pesquisadores e empresários brasileiros.
Já, o momento atual é o de aplicação da fabricação digital na produção arquitetônica, buscando melhorar sistemas de pré-fabricação.
Pré-fabricados com argamassa armada
A argamassa armada não é uma novidade, tendo sido explorada pelo engenheiro francês Joseph-Louis Lambot há duzentos anos, com seus barcos de concreto. Na década de 1940, Pier Luigi Nervi utilizou também a argamassa armada, chamada por ele de ferrocimento.
A diferença entre a argamassa armada e o concreto é que na argamassa armada as armaduras são de pequenas dimensões (geralmente, uma armação de aço com fios de pequeno diâmetro) e estão em maior contato com a própria pasta de cimento, ao passo que no concreto aço e a pasta de cimento trabalham independentemente.
As experiências de João Filgueiras Lima, o Lelé, com a argamassa armada resultaram no aumento da qualidade de execução na produção de elementos pré-moldados. Em 1979, a argamassa armada foi utilizada por Lelé para criar peças pré-fabricadas leves de pequena espessura e alta resistência para projeto de drenagem em comunidades de Salvador. Já, em 1982, a tecnologia da argamassa armada foi usada para a construção popular de Escolas Transitórias em Abadiânia, em Goiás. Por fim, Lelé desenvolveu ainda projetos com sistemas construtivos pré-fabricados em larga escala, principalmente para construção e manutenção de hospitais da Rede Sarah.

Pré-fabricação com microCAD
O Programa Ibero-Americano de Cooperação CYTED (Ciencia y Tecnología para El Desarollo) reúne desde 1984 mais de 28 mil empresários e pesquisadores ibero-americanos em 20 países, com o intuito de promover o desenvolvimento científico e social de comunidades dos países participantes, por meio de projetos voltados para o desenvolvimento de tecnologias para habitação social.
Um desses projetos é o Microconcreto de Alto Desempenho para o Desenvolvimento da Pré-Fabricação Leve. A tecnologia do microCAD é considerada sucessora da argamassa armada. O microCAD caracteriza-se como material construtivo com alta resistência, baixa permeabilidade, trabalhabilidade adequada à produção de componentes pré-fabricados leves e boa durabilidade.
Dentre os projetos desenvolvidos com o microCAD, as calçadas drenantes foram desenvolvidas pelo pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Prof. Paulo Fonseca, com inspiração nos projetos de drenagem desenvolvidos por Lelé em Salvador.

Fabricação digital na construção civil
As primeiras experiências com máquinas controladas numericamente por computador (CNC) ocorridas na década de 1970 ganharam impulso com a popularização da informática na virada do milênio. Com isso, produzir elementos customizados usando máquinas de corte a laser, fresadoras e impressoras 3D tornou-se acessível para diversas indústrias, inclusive a da construção civil.
A produção de elementos com fabricação digital pode-se dar por métodos aditivos, subtrativos ou conformativos, caracterizando-se pela deposição de um material, o desgaste ou a alteração de sua forma, respectivamente.
Na produção arquitetônica, a fabricação digital pode ser usada na produção de paredes (estruturais ou não) por meio da deposição de concreto em camadas por uma injetora CNC. A técnica permite formas mais livres, sem os eventuais erros comuns aos processos convencionais.
No Brasil, o pesquisador Paulo Fonseca concebeu a produção das fôrmas em compensado naval com o uso de cortadoras a laser, facilitando, assim, a produção dos moldes para a produção de peças pré-fabricadas das calçadas drenantes.