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Impactos ambientais do concreto usinado no Brasil

Pesquisa revela enorme variabilidade nos indicadores de impacto ambiental de concretos usinados no Brasil e oportunidade de mitigação

Foto de uma central dosadora de concreto

Pesquisa revela enorme variabilidade nos indicadores de impacto ambiental de concretos usinados no Brasil e oportunidade de mitigação

O concreto usado na construção de casas, pontes, avenidas e obras em geral é o segundo produto mais consumido no mundo, atrás apenas da água. Produzir concreto requer a extração de britas e areias, a fabricação de cimentos e outros produtos industriais, o transporte desses materiais e o consumo de água. Por seu turno, a produção e transporte dessas matérias-primas são responsáveis por emissões de gases e poluentes para a atmosfera, a água e o solo.

Figura mostra o processo produtivo do concreto desde a extração de matérias-primas, passando pela fabricação de cimento, até a dosagem do concreto na usina e seu transporte por caminhões betoneira
Processo produtivo do concreto desde a extração de materiais primas, passando pela fabricação de cimento até a dosagem do concreto em usina e o carregamento do caminhão betoneira

Um grupo de pesquisadores brasileiros quantificaram, pela primeira vez, o consumo de matérias-primas, combustíveis, eletricidade e água por concretos produzidos em usinas nacionais, que saem já prontos para a obra (concretos usinados). Eles quantificaram também a geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas advindos da produção desses concretos.

O estudo, conduzido por pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), foi publicado na edição 98 da Revista CONCRETO & Construções.

O período coberto para a produção dos inventários do ciclo de vida dos concretos analisados no estudo estendeu-se de 2016 a 2017, por 12 meses.

Os inventários dos cimentos contaram com os dados produzidos por seis fabricantes, que juntos correspondem a 70% da produção nacional. Já, os inventários dos concretos usinados contaram com a participação de sete empresas, que forneceram dados de 34 centrais de concreto, localizadas em dez estados brasileiros. Sua cobertura varia entre 3% a 10% do volume de produção nacional, a depender do tipo do concreto. Por fim, os dados de produção de areia, brita e outros materiais usados no concreto vieram de unidades de produção nacionais específicas.

De posse desses inventários e de dados complementares obtidos na ecoinvent, plataforma, de origem suíça, com abrangência internacional, que disponibiliza inventários de ciclo de vida de produtos pertencentes a vários setores da economia, os pesquisadores calcularam os indicadores de impacto ambiental dos concretos analisados.

Oportunidades de mitigação de impactos ambientais do concreto usinado

O que mais saltou aos olhos dos pesquisadores nos resultados foi a enorme variabilidade nos indicadores de impactos ambientais entre os fabricantes de concreto usinado no país. Para ilustrar um resultado da pesquisa, tomando, como exemplo, o concreto de classe de resistência de 30 MPa (tipo de concreto bastante usado na construção de edifícios), o potencial de aquecimento global variou de 128 a 348 kg CO2 eq./m3. Este indicador revelou que, a cada metro cúbico do concreto produzido, as emissões de gases do efeito estufa variaram de 128 quilos para 348 quilos de um fornecedor a outro. Assim, foi constatada uma variação de 220 quilos nas emissões de dióxido de carbono por metro cúbico deste concreto entre os fabricantes, o que corresponde a uma diferença de 1,76 toneladas de CO2 a cada caminhão betoneira com capacidade de 8m3. Para os demais indicadores, a variabilidade foi ainda maior.

Gráfico do potencial de aquecimento global de concretos por classe de resistência e tipo de cimento
Potencial de aquecimento global (GWP) de concretos com resistência de 25, 30, 35 e 40 MPa e com uso de cimentos CP-III, CP-II-E e CPII-F produzidos em centrais dosadoras brasileiras

Os fatores apontados para essas diferenças nos indicadores de impacto ambiental estão relacionados às diferenças nos modos de produção entre as centrais de concreto, bem como às disparidades de composição e produção de cimentos entre seus fabricantes.

Comentando os resultados, os pesquisadores apontam para a importância em se escalar ferramentas de contabilidade ambiental no setor construtivo como estratégia fundamental para mitigar impactos ambientais. Segundo argumentam no artigo, a partir do momento em que a avaliação do ciclo de vida de produtos for exigida dos fabricantes do setor, será possível aos consumidores optar pelos fabricantes com os melhores indicadores de impacto ambiental. Por sua vez, esse processo levará os fabricantes mais dispendiosos do ponto de vista da eficiência ambiental a melhorarem seus processos produtivos, para sobreviverem no mercado, o que contribuiria para mitigar os impactos ambientais em toda cadeia da construção.

Reduzir quase duas toneladas nas emissões de gás carbônico por caminhão betoneira é, sem dúvida, uma medida mitigadora significativa de redução de impacto ambiental do concreto usinado, que cabe às centrais dosadoras brasileiras perseguir.

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