A Federação Internacional do Concreto Estrutural (fib) é uma entidade técnica formada por 1400 participantes de 67 países, entre os quais o Brasil, que participa por meio do Grupo Nacional formado por filiados do IBRACON, ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) e ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural). Ela estrutura suas atividades em torno de grupos de trabalho, cinco dos quais participaram ativamente da atualização do Código Modelo 2010. Como documento técnico internacional, o Código Modelo serve de base para as discussões para normalização nos países-membros, bem como para a pesquisa científica e tecnológica nesses países.
O Código Modelo 2020 inovou ao incorporar uma abordagem baseada no desempenho sustentável do projeto, execução e manutenção das estruturas de concreto. Isto significa que o Código traz indicadores de desempenho econômicos, sociais e ambientais para o ciclo completo de vida de uma obra. Esses indicadores para fornecedores, projetistas, construtores e proprietários de obras aplicam-se para as fases de produção dos materiais de construção, de projeto e execução da obra, de uso e de demolição, reuso e disposição dos resíduos de construção. Eles foram concebidos com base nas metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, coleção de 17 metas globais estabelecidas pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU).
Formado por 39 capítulos e totalizando 800 páginas, suas novidades em relação ao Código Modelo de 2010 foram apresentadas pela vice-presidente da fib, Eng. Íria Doniak, em duas partes: na sua palestra no Seminário “O Estado da Arte em Normalização de Concreto” e em sua conferência plenária no 65º Congresso Brasileiro do Concreto, que aconteceu em Maceió, de 22 a 25 de outubro, reunindo 1175 congressistas.

Os novos capítulos do Código Modelo 2020 tratam de especificações da durabilidade, condições do controle qualitativo do concreto, condições para o desempenho ambiental, avaliação do desempenho de concretos não convencionais, concretos com agregados recicláveis e premissas de projeto.
Em relação aos materiais construtivos, a recomendação geral é a substituição de materiais com alto impacto ambiental por alternativos com menor impacto e similar ou superior desempenho, como cimentos com pozolanas e argilas calcinadas, concretos com alto teor de cinzas volantes, escórias de alto forno, microssílicas e fíler calcário e com agregados reciclados. O maior vilão das emissões de carbono na indústria da construção é o clínquer do cimento, formado pelo processo de decomposição do calcário, que libera 70% das emissões de carbono do setor cimenteiro, sendo os outros 30% advindos da queima de combustível fóssil nos fornos de cimento. Os materiais suplementares, como pozolanas, sílicas e fíler, são capazes de substituir o clínquer no cimento, contribuindo, assim, para diminuir as emissões de carbono.
O Código Modelo 2020 traz guias para o planejamento da durabilidade de estruturas novas e existentes, oferecendo orientações para evitar a deterioração prematura das estruturas de concreto. Quanto ao quesito de avaliação das estruturas existentes, ele divide as estruturas em sem deterioração, com deterioração e sem detalhamento de conformidade, estabelecendo parâmetros diferenciados para inspeção e monitoramento e para ensaios de materiais, elementos e sistemas em relação aos parâmetros de avaliação de estruturas novas. Já, no quesito das intervenções, essas são classificadas em preventivas, corretivas, de manutenção, de reforço e de gestão do ciclo de vida.
Em resumo: o Código Modelo 2020 incorporou parâmetros de impacto ambiental, conjuntamente com parâmetros econômicos e sociais, tendo em vista a interação desses três pilares para assegurar a sustentabilidade das estruturas de concreto. Nas palavras da vice-presidente da fib, “atender requisitos ambientais é necessário, mas precisa ter um custo econômico capaz de atender às necessidades sociais”.
Ela completa justificando suas apresentações no Congresso: “O Brasil tem suas próprias normas de concreto e isto é importante porque temos liberdade para analisar e adotar referências do mundo inteiro, bem como de participarmos e contribuirmos com as discussões de normalização do concreto fora do Brasil”.